Foto: Cícero Oliveira
A transformação de pesquisas acadêmicas em produtos para a sociedade é um dos objetivos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que apenas em 2019 já conquistou cinco novas cartas-patentes. O documento, concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), comprova a autoria e o ineditismo de inventos com aplicabilidade industrial. No total, já são 14 cartas-patentes de propriedade da UFRN, que se destaca entre as instituições de ensino superior do Nordeste com maior número de concessões, à frente de universidades como as federais do Ceará (UFC) e de Pernambuco (UFPE).
“Isso mostra a capacidade da UFRN em gerar produtos de qualidade para chegar ao mercado e ao consumidor final. A cultura de empreender já faz parte da instituição, agora queremos ultrapassar os nossos muros para celebrar a transferência de tecnologia com as empresas”, comemora o diretor do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), Daniel de Lima Pontes. As cartas-patentes conferem a propriedade intelectual dos inventos de titularidade da UFRN, para uso aplicado pelos interessados, mediante licenciamento. Como retorno, a Universidade recebe royalties, divididos com os inventores.
As conquistas mais recentes da instituição foram concedidas no dia 24 de abril, sendo um modelo de utilidade para uso em treinamento muscular e uma invenção de nanopartículas de carbeto-tungstênio com cobalto. A primeira carta-patente é intitulada Dispositivo de Treinamento Muscular Respiratório (TMR) para Músculos Inspiratórios e Expiratórios com Carga Resistiva Limiar, de autoria dos inventores Danilo Alves Pinto Nagem, Guilherme Augusto de Freitas Fregonezi, Ricardo Alexsandro de Medeiros Valentim, Atila Bomfim Fernandes, Fabiana Piano, Palomma Russelly Saldanha de Araújo Oliveira e Illia Nadinne Dantas Florentino Lima.
O modelo de utilidade surgiu de uma demanda clínica, quando o grupo percebeu a necessidade de desenhar um dispositivo que tornasse possível treinar os músculos respiratórios, inspiratórios e expiratórios de forma concomitante. Diferentes doenças provêm de um quadro clínico de fraqueza desses músculos, como as respiratórias crônicas, as neuromusculares e as cardíacas, para as quais é indicado o treinamento muscular, também utilizado por desportistas como forma de aumento do rendimento.
O professor Guilherme Fregonezi explica que nos últimos anos tem se consolidado o treinamento de alta intensidade como forma de obter resultados mais expressivos em relação à força, desempenho e funcionalidade. “Entre os diferentes tipos de treinamento, o dispositivo foi criado com ‘carga resistiva limiar’, em que o sujeito deve vencer a resistência da válvula executando um esforço inspiratório ou expiratório ao nível da carga ajustada ou superior. O nível de intensidade de carga deve ser individualizado, de acordo com os objetivos a serem alcançados e respeitando a carga máxima que o sujeito pode desempenhar, a partir de avaliações prévias e ajustes semanais”, detalha.
A patente de invenção, por sua vez, é intitulada Obtenção de Pós Compósitos De WC-Co Nanoestruturado a partir do Precursor de Paratungstato de Amônia (APT) através de Reação Gás-Sólido, de autoria dos inventores Francisca de Fátima Pegado de Medeiros, Carlson Pereira de Souza e Uílame Umbelino Gomes. A nova patente está relacionada ao desenvolvimento tecnológico do tungstênio com o cobalto para produzir uma liga conhecida como metal duro, aplicada na indústria para a fabricação de brocas de perfuração, prospecção de petróleo, entre outros itens.
A inovação está na produção de partículas nanoestruturadas, ou seja, pequenos objetos que medem o equivalente a um milionésimo de milímetro. De acordo com Umbelino Gomes, esse material tem propriedades espetaculares para a fabricação de produtos em diversos tipos de indústrias, entre elas a aeronáutica e a civil. A invenção nanoestruturada do carbeto-tungstênio com o nióbio consiste em outra carta-patente conquistada neste ano pelo inventor, que trabalha desde o início dos anos 1990, juntamente com o professor Carlson Pereira, em pesquisas sobre os metais refratários que têm alto ponto de fusão e que existem no Rio Grande do Norte: tungstênio, nióbio e tântalo.
Incentivo à inovação
A UFRN possui atualmente mais de 220 pedidos de patentes depositados junto ao INPI. Todos esses inventos já podem ser utilizados por empresas, que “precisam ver a universidade como local de busca de tecnologias”, defende Daniel Pontes, ao ressaltar a importância de se conhecer o portfólio de patentes prontas para aplicação na indústria. O diretor do NIT observa que a inovação é um dos carros-chefes de crescimento em muitos países e se torna ainda mais necessária para as nações em desenvolvimento, “pois é a moeda para avançar com a cultura e tecnologias próprias para ter condições de vender os nossos insumos com valor agregado”.
O mesmo pensamento norteia o trabalho do professor Umbelino Gomes, que já recebeu a quinta carta-patente com o objetivo principal de transformar a realidade econômica local. Isso porque o Rio Grande do Norte é o maior produtor de tungstênio do Brasil e apresenta produção significativa do nióbio, mas ainda comercializa os minerais apenas como matérias-primas, sem qualquer processo de industrialização. A ideia é atrair o interesse das empresas para fabricar produtos finais no próprio estado a partir desses recursos naturais e, consequentemente, alavancar o desenvolvimento social e econômico.
A preocupação em criar soluções para a sociedade é apontada pela reitora da UFRN, Ângela Maria Paiva Cruz, como fator para o aumento do número de depósitos de patentes, que nos últimos oito anos teve um salto da casa das dezenas para as centenas. “Vivemos um momento singular e marcante, colhendo os frutos do incentivo ao empreendedorismo e à inovação dentro da Universidade”, destacou a gestora em reunião no último dia 29 com os inventores das cartas-patentes concedidas em abril. Ângela Paiva adicionou que o trabalho acadêmico de professores e alunos contribui para o cumprimento das metas do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da UFRN, alcançadas por meio do diálogo e da construção coletiva. “Vocês contribuem para a inovação, a internacionalização e a integração na Universidade. Continuaremos vencendo os desafios para avançar sempre”, assegurou.
Um dos planos futuros foi apresentado pelo pró-reitor de Pós-Graduação da UFRN, Rubens Maribondo, ao vislumbrar a conquista de patentes internacionais e a captação de recursos e projetos no exterior. A carta-patente concedida pelo INPI permite a comercialização dos produtos em todo o território nacional, com garantia da propriedade dos modelos de invenção por 20 anos e dos modelos de utilidade por 15 anos a partir da data de depósito do pedido. Depois desse período, a invenção passa a ser de domínio público e pode ser utilizada sem licenciamento.
As patentes da UFRN podem ser consultadas no NIT, que assume a tarefa de orientar os pedidos, acompanhar as concessões e fazer o intermédio com as empresas para a transferência de tecnologia. Outras informações podem ser obtidas no site do Núcleo de Inovação Tecnológica, pelo e-mail nit@reitoria.ufrn.br ou pelos telefones (84) 9 9167-6589 e (84) 9 9224-0076.