Entrevista Arquivo

Marina Silva foi convidada para um evento paralelo às negociações da Conferência do Clima (COP21) nesta última terça-feira (08/11) para falar sobre o assunto que deu visibilidade à senadora fora do país: o combate ao desmatamento.

Mas, como ex-candidata à presidência da República, ela comentou também a situação política vivida pelo país: “Se ontem o Brasil achava que estava no fundo do poço, hoje vemos que estamos num poço sem fundo”, definiu a sucessão de escândalos e o conflito com Eduardo Cunha que levou ao pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Marina defendeu a continuidade das investigações da Lava Jato e negou qualquer interesse em se lançar como candidata a uma possível eleição convocada às pressas. “Eu sequer poderia ser candidata, pois ainda não tenho um ano de filiação à Rede Sustentabilidade”, comentou sobre o partido fundado por ela.

Apresentada à plateia como ex-ministra de Meio Ambiente e “verdadeira guerreira em defesa da Amazônia”, Marina criticou duramente o aumento da taxa do desmatamento no último ano. “Ela subiu num momento em que a economia está paralisada. Imagine se (a economia) estivesse crescendo.”

Desmatamento ilegal permitido até 2020

As opiniões de Marina diminuíram a euforia do anúncio celebrado durante a COP21 de que os governos do Acre, Pará e Mato Grosso, maiores desmatadores, irão zerar o corte ilegal da mata até 2020 – dez anos antes do que o prometido pelo governo federal em sua INDC, documento em que o governo se compromete junto às Nações Unidas a cortar suas emissões de gases estufa.

“O desmatamento ilegal não pode ser tolerado em nenhum momento. Não há espaço para tolerância da criminalidade”, afirmou sob a presença do governador do Mato Grosso, Pedro Tanques, e do representante do governo do Pará, Justiniano Netto.

Durante a COP21, os dois estados apresentaram os números de redução de desmatamento da floresta na última década, que contribui para que a área degradada caísse de 27 mil a 5 mil km2 nesse período.

“Ainda tem desmatamento porque não tem governança suficiente na Amazônia”, disse Paulo Adario, do Greenpeace, à DW Brasil. “Existe uma cadeia organizada de crime. A grilagem virou um negócio, a terra tem valor e o Brasil virou uma grande potência na produção de alimentos. Tem uma disputa pela terra”, comentou sobre os bastidores do desmatamento.

As técnicas de monitoramento e controle são importantes, mas não suficientes. “Quem paga o pato são os povos indígenas, as comunidades locais. Eles são os verdadeiros donos dos recursos que provocam essa guerra, que é uma guerra desigual porque o outro lado tem dinheiro, influência política, impunidade e arma”, completou Adario.

Política e Código Florestal

Durante a COP21, a ministra de Meio Ambiente, Izabella Teixeira, cobrou mais engajamento dos estados brasileiros no combate ao desmatamento, e disse que o governo federal está fazendo além do que a lei exige.

“Gastamos mais de 500 milhões de reais pra ajudar os estados a implementar o Cadastro Ambiental Rural (CAR)”, comentou sobre o mecanismo que vai servir de base para o cumprimento do Código Florestal nas propriedades privadas.

O CAR vai ser fundamental para que o governo separe o desmatamento permitido pela lei do ilegal. Um novo satélite com maior precisão de imagens, previsto para ser lançado em fevereiro, vai aumentar a vigilância sobre a cobertura vegetal das áreas, afirmou o ministério.

Para Marina Silva, a divulgação desses dados para a sociedade é fundamental para dar transparência o processo e forçar a queda do desmatamento. “É preciso a volta do acesso ao dados do Deter (Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real), que hoje virou uma caixa preta”, diz Silva sobre a não distribuição das informações do sistema operado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

A ex-ministra defendeu a revisão do Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDam), que entrou em vigor em 2004. E considera o governo de Dilma Rousseff pouco interessado nas questões ambientais, que sempre provocam um debate internacional. “Um governo de coalizão que não tem força de sustentação no Congresso faz com que a agenda indígena, ambiental, de direitos humanos sejam sempre colocadas como moeda de troca”, resumiu.

Informações do DW

“Existe um pensamento do Governo de tornar o Estado mais leve, vendendo ativos que não tenham nenhuma função social”, destaca o secretário de Estado do Desenvolvimento Econômico Flávio Azevedo, ao comentar a possibilidade do Poder Executivo se desfazer de imóveis e empresas, como a Potigás, para retomar o crescimento do RN na economia nacional.

Nesta entrevista, o titular da Sedec falou também sobre as dificuldades de negociação com a Ambev, ressaltando o parecer do Governo Estadual de que a empresa teria que continuar no Estado, pelos anos que foi incentivada pelo Proadi. “A empresa tem que ter responsabilidade. Ela não pode simplesmente fechar a chave”, pontuou.

Questionado, Flávio Azevedo mostrou-se preocupado com o Governo do RN caso o HUB da Latam – que teve a escolha da cidade-sede atrasada – não seja instalado em São Gonçalo do Amarante, considerando que “seria uma grande decepção”. Apesar disso, ele afirmou entender os critérios empresariais do grupo, que neste ano anunciou reduções em números de voos e compra de aviões para o Brasil, e pontuou a necessidade de buscar outros investimentos de grande porte.

Durante os meses à frente da Sedec, o que já foi constatados de limitadores ao desenvolvimento econômico do Estado?
Temos que partir do princípio que para ter desenvolvimento econômico você precisa de investimentos. E, na minha chegada aqui já existia a constatação de dois fatos – sendo um antigo. A capacidade de investimentos no Estado não existe, nem nunca existiu. A receita do Estado paga a folha, o custeio e o serviço da dívida. Isso é uma tradição. Então, a gente tinha como alternativa buscar dinheiro com o Governo Federal. E isso vinha através de impostos, transferências do Tesouro e financiamentos. Mas, hoje em dia, ele também não tem dinheiro, pois, precisa fechar um superávit fiscal.

Isso deve continuar em 2016? Ou podemos ter um ano mais tranquilo?
O fator subjetivo influi bastante no setor produtivo, pois, o empreendedor não vive apenas de checar números, taxas internas de retorno, etc. Ele vive também de expectativas. E elas tem um componente subjetivo bastante forte, um deles, a confiança. E, estas expectativas não são boas, em função de uma coincidência de crises, que hoje foi agravada. Existia uma crise econômica, fruto da frustração de um plano nacional de desenvolvimento, que vigorou até 2014, aquele “Brasil Maior”, que cometeu o erro de acelerar o desenvolvimento via desonerações, que em um primeiro momento foi ótimo para a classe empresarial, e estímulo de consumo. Mas, todos nós nos esquecemos que estes estímulos eram finitos. E hoje, complicou ainda mais, porque o momento atual não é bom. Existe uma crise econômica, uma crise política, uma crise moral, uma ausência de lideranças. Quem tá de fora dessa enorme confusão pode ter alguma esperança? Então, se não existe expectativa, você já começa muito mal em termos de projetar o futuro. Eu não vejo um 2016 com muitos bons olhos. Para se ter um 2016 bom era preciso que o Congresso Nacional tivesse aprovado várias medidas propostas pelo Ministério da Fazenda. Nenhuma delas foi aprovada. Está aí esse enorme tumulto.

Quais os erros destes estímulos?
O país não tinha uma capacidade ilimitada de desonerar, para que a produção melhorasse. E as desonerações foram setoriais. Primeiro entrou as famosas linhas brancas. E na outra mão deu condição para a população consumir, mas, com uma carga de juros nas costas. Não foi assim que os grandes países se desenvolveram. O financiamento é uma antecipação, do que você podia comprar mais à frente, que funcionaria se houvesse um espírito de poupança.

Do ponto de vista estadual, o Governo do RN poderia trabalhar a hipótese de vender algum ativo? Como a Potigás, para equilibrar as contas.
Esta é a intenção do Governador [Robinson Faria], quando estabeleceu o aumento dos impostos. Ele entendeu que o Estado também precisava fazer a sua parte. E existe um pensamento do Governo de tornar o Estado mais leve, vendendo ativos que não tenham nenhuma função social. Nem nenhuma função econômica. O Estado tem vários terrenos, empresas tipo a Potigás, outras. Então, está se iniciando um planejamento para venda de ativos.

Tais vendas podem ser  realidade já em 2016? A Potigás estaria nesta lista?
Pode ser uma realidade. Toda e qualquer empresa ou bem imobiliário que não tenha função social, nem que auxilie a produção econômica, é meu entendimento pessoal que deve ser vendido e até onde eu tenho conversado com o Governador, eu acho que também é entendimento dele.

Isto prejudicaria algum programa do Governo do RN?
Nenhum programa. Pelo contrário, se você tem recursos, serviria para agilizar aquelas teses sobre o desenvolvimento só existir com investimentos. E, seria, talvez, uma das saídas para se retomar um processo de desenvolvimento.

Seriam vendas fáceis de efetuar? Qual o impacto econômico?
Alguns sim. Por exemplo, existem imóveis que são fáceis de vender, mesmo que você considere que a atividade da construção civil está um pouco engessada. Mas, o Estado tem realmente imóveis muito valorizados, diferenciados, onde as cidades foram crescendo e hoje eles valem bastante dinheiro. Então, eu acredito que isto possa efetivamente contribuir, desde que ele não tenha nenhuma função social. Mas, não temos ideia de valores. Isto está sendo iniciado, analisado, pois, é um trabalho muito criterioso.

Em relação ao setor industrial, está na hora de ampliar os distritos?
Os nossos distritos têm um problema de infraestrutura. Eles ainda não têm um sistema completo de esgoto, de energia e, sobretudo, de pavimentação. Quando chega no período de inverno, os caminhões não conseguem entrar nas fábricas. Então, mais uma vez se volta ao problema de investimentos. E, segundo, nossos distritos estão com a sua capacidade quase esgotada. Nós temos ainda pequenos terrenos disponíveis, em termos. De empresas que receberam o benefício e não utilizaram estes terrenos, que estamos retomando, em trabalho conjunto com a Procuradoria Geral do Estado, para repassar a quem realmente tenha capacidade de investir e, por via de consequência, gerar emprego. Não são muitos, mas, tem uma quantidade suficiente para atender uma demanda de curto prazo.

Um dos programas que beneficiam a indústria é o Proadi, que foi sancionado pelo Governador. Na prática, a nova regulamentação vai realmente favorecer novos investimentos?
Vai. Ficou definido a forma do micro e pequeno empreendedor ter direito de acesso ao Proadi, que antes não tinha e o período de permanência pós-programa foi reduzido, através de emenda parlamentar, para 20%. E continuam as regras de que a empresa tem que manter um mínimo de empregos, etc, etc. Além disso, entrou a agroindústria. Mas, a micro e pequena não pode acumular, tem que escolher entre o Proadi e o Simples Nacional.

O Estado vem trabalhando outras atratividades? 
Não só o Rio Grande do Norte, mas, os Estados Nordestinos, estão no limite de concessões de incentivos fiscais. Essa ideia já é enfraquecida, mas, se um dá, para manter a competitividade, o outro tem que dar, e isso gerou um ciclo vicioso terrível. É ruim para o Estado, é ruim para a população, que fica sem recursos para investimentos, e é ruim para as próprias empresas, porque isso gera insegurança jurídica. As empresas que começaram o Proadi, lá atrás, tipo a Ambev, passaram 20 anos usufruindo o Proadi, e, na época, imaginou-se que depois desse tempo elas teriam musculatura suficiente para poder continuar, pagando seu imposto. Acontece que, aqueles motivos de origem, como uma reforma fiscal de modo que o Nordeste não fosse tão punido, o status quo continua. Não se fez nada nesse país.

Qual a penalidade para as empresas, como a Ambev, que não permanecem no Estado pós-Proadi? É possível tal ação?
Eu entendo que a empresa precisa ser punida. Quem recebe, como a Ambev recebeu, vinte anos de benefício fiscal e, simplesmente, porque não conseguiu renovar, quando não existia legislação apropriada e o Governo passado não poderia cometer uma ilegalidade, fecha. A empresa tem que ter responsabilidade. Ela não pode simplesmente fechar a chave, porque recebeu uma oferta maior de um Estado vizinho. Elas se aproveitam e leiloam a nossa miséria. Esta é a situação dos Estados do Nordeste. Uma empresa dessa não pode ficar impune.

Tem essa cláusula e ela tem que ser cumprida. Então, a Procuradoria Geral do Estado está analisando. E, eu mandei levantar o valor, pelo menos aproximado, do imposto que ela deixou de recolher, para voltar a sentar com eles e mostrar. Temos conversado por telefone, eles sempre me atendem, e eu entendo os motivos deles. Mas, eu entendo que tem que ter um equilíbrio nisso. E, com essa possibilidade de novo enquadramento no Proadi, então, a alegação deles morre. Vamos tentar negociar.

A Latam anunciou neste ano uma redução no número de voos, na compra de novos aviões e atrasou a escolha da cidade que vai receber o Hub. Isto chega a ter um efeito negativo nas esperanças do RN?
Eu acho que isto é uma decisão empresarial e não muda a equação que a TAM está querendo fazer para ver qual é o Estado mais vantajoso para ela. O motivo é este que você citou. Quer dizer, existia uma diminuição das atividades, as operações da aviação brasileira, hoje, todas estão perdendo dinheiro. Então, aumentar sua atividade, para ter prejuízo, não me parece lógico. Foi uma decisão em função do quadro em deterioração da economia brasileira. As empresas estão freando seus investimentos e o Hub não é pouco.

O Governo trabalha com a hipótese de não ter este investimento? O que está sendo feito neste sentido?
Eu acho que devemos correr atrás também da Azul, que fez uma operação audaciosa, comprando a TAP, e agora venderam um percentual para uma empresa chinesa. Para nós, não importa se o Hub é da TAM ou da Azul, nós temos que ter, que é um fundamental para o futuro da nossa economia. A própria licitação do aeroporto de Fortaleza foi adiada também. Tão esquecendo que tem que ter o empresário interessado em investir alguns bilhões de reais. Não adianta o Governo fazer a licitação e dar vazia. Tem que ter um pouco de responsabilidade nessa decisão, porque gera mais descrédito ainda.

Não vindo o investimento, o Governo do RN fica então com uma imagem desacreditada diante da população também?
Eu não diria descrédito. É uma decepção, porque é uma decisão empresarial. Gera uma enorme decepção, a expectativa é muito grande, é importante para a nossa economia. Isso aumenta o nosso tamanho tanto no mundo interno quanto, e principalmente, na parte externa. No turismo, etc.

Nesta semana, o BNDES divulgou seu balanço de financiamentos em 2015 e 39,4% tiveram como destino as micro, pequenas e médias empresas. Que análise podemos fazer deste dado?
96% das empresas do Rio Grande do Norte são micro e pequenas. O micro e pequeno empresário no Estado o é responsável pelo maior número de empregos. Essa é a realidade econômica do RN. Aqui você conta na mão as grandes empresas. E, este dado é muito bom, uma prova disso. Só se demanda crédito se houve expectativa de negócio. Isto segue aquela cadeia: o meu crédito é o débito. É assim que se forma a economia. Essa conjugação de compradores e vendedores. O dinheiro está caro, mas, se consegue recursos. Alguém ainda tem expectativa favoráveis, mas, são poucos, está reduzido a micro e pequenos empresários.

Tribuna do Norte

O papa Francisco afirmou hoje (19), em uma homilia no Vaticano, que as festividades de Natal soam falsas em um mundo que escolheu “a guerra e o ódio”.

“Estamos perto do Natal: haverá luzes, festas, árvores iluminadas, presépios, (…) mas é tudo falso. O mundo continua em guerra, fazendo guerras, não compreendeu o caminho da paz”, lamentou o pontífice, na homilia da missa matinal, no dia em que foi instalado na Praça de São Pedro um grande pinheiro para as festividades natalinas.

“Existem hoje guerras em toda a parte e ódio. (…) E o que resta? Ruínas, milhares de crianças sem educação, tantos mortos inocentes. E tanto dinheiro nos bolsos dos traficantes de armas”, completou o papa. Para Francisco, a guerra é a escolha de quem prefere as “riquezas” ao ser humano.

“Os que lançam a guerra, que fazem as guerras, são malditos, são delinquentes”, disse o pontífice, para quem não há argumentos que justifiquem a atual situação do mundo.

“Devemos pedir a graça de chorar por este mundo, que não reconhece o caminho para a paz. Para chorar por aqueles que vivem para a guerra e que têm o cinismo de o negar”, acrescentou.

O pinheiro com 25 metros de altura instalado na Praça de São Pedro é oriundo da terra natal do antecessor do papa Francisco e atual papa emérito, Bento XVI, o estado da Baviera, no Sul da Alemanha.

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