A discussão sobre o momento de crise no país e as ações a serem tomadas para reverter esse quadro estiveram entre os destaques do encontro do Elo Nacional. Para a reunião, os integrantes da Executiva Nacional da Rede prepararam uma análise sobre a conjuntura econômica, em parceria com o antropólogo Luiz Eduardo Soares e o economista Ricardo Abramovay.
Segundo o documento, se a recessão e a crise fiscal exigem revisão de benefícios sociais, o compromisso com a justiça e a equidade impõe também o sacrifício de privilégios concedidos aos grupos de maior renda. Por outro lado, nenhum ajuste tem legitimidade se não estiver vinculado a um horizonte realista e promissor que aponte para mudanças no modelo de desenvolvimento e para a redução de desigualdades com bases robustas. Nenhum ajuste conquistará o apoio do conjunto da sociedade se não representar a etapa preparatória de um modelo de desenvolvimento efetivamente sustentável.
“Temos que ajustar o Brasil e dentro do “Ajuste Brasil”, está o ajuste fiscal, que é uma gestão legal. Não é questão de agir por conveniência. É agir pelas nossas crenças. Agir por conveniência é apostar no quanto pior, melhor”, disse a ex-senadora Marina Silva ao comentar o documento de Análise de Conjuntura. “Agir por conveniência está nos levando para esse fundo do poço que se tornou o Brasil. Dentro do “Ajuste Brasil” está, sobretudo, o ajuste das posturas. Sem mudar isso, não vamos mudar as estruturas. É preciso haver um diálogo profundo para mudar o país”, complementou.
Ainda de acordo com o documento, ainda que os avanços das últimas décadas sejam insuficientes, a crise atual coloca em risco essas conquistas da população. Diante desse cenário, Ricardo Abramovay comentou os problemas do crescimento recente no Brasil. “A sociedade brasileira viveu os últimos anos entorpecida por um relativo sucesso do resultado das políticas de redução de desigualdade de renda. A sociedade foi globalmente complacente com uma cisão entre estas conquistas sociais e a base econômica em que se apoiaram. Uma base econômica que não poderia ser mais conservadora: como a parceria com grandes construtoras, bases hidrelétricas na Amazônia, intensificação e reconquista do mercado interno com o aumento super expressivo do trabalho formal nas faixas de mais baixa remuneração, com baixíssima faixa de remuneração”, analisou.
Segundo a análise, o problema desse tipo de crescimento está calcado em três aspectos principais: o primeiro é que as empresas que mais se destacam no Brasil estão distantes da fronteira global de inovação – caso da Vale e das grandes construtoras. Em segundo lugar, está a ilusão dos governantes de que reduzir a pobreza trata-se apenas de vontade política. “É preciso abolir esse discurso, pois ele abusa do carisma”, diz Ricardo. Em terceiro lugar, segundo especialista, está o atraso no que diz respeito à inovação. “Enquanto a Índia se compromete a fazer até 2022 o equivalente a cinco Itaipu em energia solar, ainda estamos discutindo a construção de hidrelétricas na Amazônia”, diz.