Entrevista: Governadora Rosalba Desabafa na Revista Época

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ÉPOCA – Qual é a importância para o DEM da sua não-candidatura? A senhora é a única governadora do partido.

Rosalba – Eu acho que você tem de perguntar a eles.

ÉPOCA – Mas qual a opinião da senhora?

Rosalba – Só tínhamos dois (governadores). Perdemos um. A única que ficou está sem condições de colocar seu nome. O DEM tende a sumir.

ÉPOCA – Com a decisão de impedir a sua reeleição, o DEM está se apequenando?

Rosalba – Eu acho que, na realidade, era para estarmos lutando para termos mais governadores, como se luta para ter mais prefeitos, que são a base das eleições. Tendo mais governador cresce também a bancada. Muita coisa eu não posso responder por eles.

ÉPOCA – Como foi a reunião da semana passada? A senhora já percebeu um clima desfavorável?

Rosalba – Já percebi, porque na realidade o diretório vem de longas datas, ele (o senador José Agripino Maia) é o presidente do partido, sempre foi. Então, é claro que não tem se renovado muito o diretório. Teve votos nulos, votos em branco, teve abstenções – poucas, mas teve. Então, não havia unanimidade.

ÉPOCA – A votação foi aberta?

Rosalba – Não, foi secreta.

ÉPOCA – O senador Agripino Maia fez algum tipo de consideração?

Rosalba – Não, foi só isso. Ele encaminhou mostrando a necessidade de o partido crescer suas bancadas e, para isso, não poderia ficar só (na disputa eleitoral); que o governo até então não tinha montado uma arco de alianças. Eu ponderei que, para você montar um arco de alianças, você precisa que as lideranças do partido ajudem.

ÉPOCA – A senhora está desapontada com ele?

Rosalba – Eu preferia não fazer nenhuma observação.

ÉPOCA – Por que?

Rosalba – (silêncio) Deixa… Eu estou refletindo.

ÉPOCA – A senhora conversa com o senador Agripino sobre sua situação?

Rosalba – Somos do mesmo estado e o conheço há mais de 50 anos. Frequenta a minha casa e nos tratamos muito bem. Sempre houve confiança de ambas as partes. Durante todo esse período, fui tentada a trocar de partido e isso poderia até ter sido mais promissor para mim politicamente. Mas eu não mudei porque Agripino era o presidente do partido e me mantive no DEM por uma questão de lealdade e respeito a ele.

ÉPOCA – Quais partidos a convidaram para que deixasse o DEM?

Rosalba – Tive convite do PSD, PROS, PTB, PP e de partidos menores. Qual é o partido do Marcelo Crivella? PRB. Tive convite do PRB. Mas fiquei no DEM.

ÉPOCA – O governo da senhora tem sido mal avaliado. Numa pesquisa a senhora ficou na pior posição entre os 27 governadores.

Rosalba – Não digo que vou ganhar a eleição. Mas o nosso partido tinha chance de disputar a eleição. Minha candidatura levaria a eleição no Rio Grande do Norte para o segundo turno. Eu teria a oportunidade de esclarecer muita coisa sobre o meu governo.

ÉPOCA – Como a avaliação do seu governo chegou a esse nível? Isso foi levado em conta na reunião?

Rosalba – Não, isso não (foi levado em conta). Até porque eles sabem que isso (a avaliação do governo) vem melhorando. O governo que eu peguei, como eu disse, estava falido. Os hospitais eram o caos do caos. Com toda essa loucura, nós fizemos mutirão de cirurgias para acabar com as filas e acabamos em muitos lugares, aumentamos 88 leitos de UTI, 140 leitos de retaguarda. (o Rio Grande do Norte) É o estado que tem a maior cobertura de SAMU. Nós temos SAMU em todo estado: toda cidade com mais de 20.000 habitantes tem SAMU. Nós avançamos na oncologia, acabamos com a fila, hematologia está funcionando bem, voltamos a fazer até transplante de fígado que tinha parado. Nada é perfeito, tem muito a fazer, mas já melhorou muito. O aeroporto saiu do papel. Mérito da governadora? Luta da governadora, porque não descansei um só segundo. Teve a presença da nossa bancada? Teve e o compromisso da presidenta Dilma, mas ele vinha se arrastando há 17 anos.

ÉPOCA – Quando a senhora teve sinais de que o PMDB, que apoiava seu governo, não a apoiaria num projeto de reeleição?

Rosalba – Teve um determinado momento em que o PMDB, que chegou a ocupar sete secretarias, deixou o governo. Naquele momento, o PMDB já dizia que queria uma candidatura própria. Começamos a ver entrevistas. Havia sinalizações de que ele estava formando um acordo muito grande, inclusive com partidos que têm ideologias diferentes. A candidata dele ao Senado (Wilma Faria) é do partido do Eduardo Campos (PSB). Henrique Alves dizia que apoiava a (presidente) Dilma (Rousseff). Já outros partidos desse acordão querem apoiar o (senador) Aécio (Neves, candidato pelo PSDB).

ÉPOCA – Qual a vantagem do DEM em apoiar Henrique Alves?

Rosalba – Olha, sinceramente, eu não sei. As bases no interior reagem muito porque sempre foram partidos historicamente, adversários. Isso aí só quem pode responder é quem… Eu não discuti isso, né?

ÉPOCA – A senhora temeria confronto com Henrique Alves?

Rosalba – Não temeria confronto eleitoral com ninguém, porque era uma boa oportunidade para esclarecer muita coisa. Quem for governador do Rio Grande do Norte agora, vai encontrar um Rio Grande do Norte melhor. Nós ficamos entre os três estados, dito pelo próprio Tesouro, que fizemos o melhor ajuste fiscal. O Estado do Rio Grande do Norte conseguiu com o Banco Mundial o maior programa para ser desenvolvido da história do Rio Grande do Norte: US$ 540 milhões. Esse projeto começou comigo, começo, meio e fim. Já está andando o programa, começou este ano. (O estado) Nunca tinha conseguido. E conseguiu por que? Porque fez o ajuste fiscal, tem capacidade de pagamento, de endividamento e tem projetos.

ÉPOCA – A senhora tem um bom relacionamento com a presidente Dilma?

Rosalba – Tenho. Relacionamento republicano.

ÉPOCA – Ela ajudou a senhora?

Rosalba – Sempre que procurei, ela não se negou a ajudar. Isso aí eu tenho de lhe dizer: que a presidenta não criou nenhuma dificuldade. Por exemplo: a barragem de Oiticica, que havia uma dificuldade, vai ser, não vai, se é com Dnocs (Departamento Nacional de Obras de Contra às Seca), se é com o estado. Falei com ela, na mesma hora ela ligou para a (ministra do Planejamento) Míriam (Belchior) e mandou fazer a autorização da ordem de serviço.

ÉPOCA – Esse bom relacionamento com a presidente causou algum tipo de constrangimento para a senhora dentro do DEM?

Rosalba – Saíram dizendo que eu votaria em Dilma. Eu disse, na verdade, que poderei votar. E disse isso porque vi ações de combate à seca com as quais eu estava plenamente de acordo. Foi uma posição em cima de algo administrativo e a maneira republicana com a qual eu fui tratada pela presidente.

ÉPOCA – Houve alguma reação contrária do partido a sua manifestação?

Rosalba – Isso não deve ter agradado por eu ter elogiado tanto a presidenta Dilma. Eu disse que se estiver certo, eu aplaudo. Se estiver errado, também vou dizer.

ÉPOCA – Por que o DEM diminuiu tanto de tamanho?

Rosalba – O partido está precisando fazer uma análise de tudo isso. E acompanhar o rumo que o Brasil está tomando. É um tempo de mudanças e o DEM permaneceu muito estático.

trecho de entrevista dada à revista Época

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