A ex-senadora Marina Silva manifestou sua opinião sobre a operação Carne Fraca na noite deste último domingo (19). Através de sua página no Facebook, a ex-ministra do Meio Ambiente defende o trabalho do Ministério Público e da Polícia Federal no combate a corrupção. Leia o artigo de opinião publicado por Marina em sua rede social.
O limite da insanidade
A operação Carne Fraca, da Polícia Federal, expõe a gravidade da doença da corrupção e o quanto se espalhou por todo o organismo econômico e político do Brasil. Parece absurdo, mas é real: grandes empresas, que receberam vultuosos financiamentos públicos e a anistia de dívidas do BNDES, estão vendendo carne podre no país, com data de validade adulterada e com aparência e peso mascarados com produtos químicos e papelão. Para isso, contam com a proteção de agentes do Estado, corrompidos para não cumprir sua missão de proteger a saúde pública. A que ponto chegamos.
Um crime de tal gravidade, verdadeiro crime lesa-humanidade, deve ser punido sem hesitações. Entretanto, arma-se um rápido sistema de propaganda em favor das empresas, a pretexto de defender os interesses comerciais do país e sua imagem no exterior. Ora, se o Estado não mostrar rigor, se a sociedade for induzida a reduzir sua própria saúde por uma questão de “prestígio”, o dano para a imagem do Brasil será maior e mais difícil de reparar.
Ninguém pode estar acima da lei, ninguém é tão importante que não possa responder por seus atos. Pessoas ou empresas, governos e governantes, estão obrigados a ter responsabilidades sociais e ambientais. A preocupação com a saúde financeira do país e das empresas é legítima quando estão dentro das leis, das práticas corretas, da justiça.
O Ministério Público e a Polícia Federal estão agindo em favor da saúde pública e contra a corrupção, e não podem ser transformados em vilões nessa história. Os corruptos e corruptores, que agem de forma criminosa, não podem ser transformados em vítimas, muito menos em heróis da pátria. É certo que estamos vivendo uma crise civilizatória iniciada e aprofundada pela perda e inversão de valores humanos. Mas algum limite há que se ter. Ao menos a vida e a saúde das pessoas devem sobrepor-se à ganância de lucros.
Se a carne é fraca, o espírito não pode a ela submeter-se.