Em entrevista Rosalba admitir apoiar Dilma em 2014

Do Valor Econômico

Vaiada pelo público do Estádio Nacional de Brasília minutos antes da estreia da Seleção Brasileira na Copa das Confederações, em junho, a presidente Dilma Rousseff consolou, na quarta-feira da semana passada, a governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini (DEM), que mal pôde discursar durante a inauguração de uma escola técnica, por conta das vaias. “Fique tranquila, essas coisas são assim mesmo”, disse a presidente.

Mas não foi apenas com palavras que Dilma conquistou a simpatia da governadora do único Estado comandado pelo DEM. Bem recebida em Brasília, Rosalba tem conseguido atrair recursos federais para obras e elogia com entusiasmo a presidente petista. Nesse ínterim, a governadora caminha para apoiar a reeleição de Dilma em 2014, apesar de pertencer a um dos principais partidos de oposição ao governo federal.

O aceno à presidente acontece em um momento delicado da administração Rosalba. Nos últimos meses, ela teve que enfrentar greves e atrasos nos salários de servidores, manifestações em frente à sua casa, e debandada de partidos aliados, caso do PMDB, comandado localmente pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, e pelo ministro da Previdência, Garibaldi Alves.

Em sua defesa, a governadora diz que teve que tomar medidas impopulares para colocar em ordem finanças estaduais. Prova disso, ela argumenta, é o empréstimo de R$ 540 milhões assinado na sexta-feira da semana passada com o Banco Mundial. Trata-se da maior operação já feita por um governo potiguar, uma prova, segundo Rosalba, de que o fôlego financeiro do Estado foi recuperado.

Ainda assim, a governadora vem perdendo apoio político e diz estar muito decepcionada com os que lhe viram as costas no momento de dificuldade. A falta de apoio compromete sensivelmente sua reeleição, ao ponto de a própria governadora ainda não confirmar oficialmente se será candidata. O aceno à Dilma tem irritado os caciques do DEM, o que levantou suspeitas de que a governadora trocaria de partido.

Em entrevista ao Valor, ela contou que foi convidada pelo governador do Ceará, Cid Gomes, a ingressar no recém-criado Partido Republicano da Ordem Social (Pros), mas disse que ficará no DEM até o dia em que se tornar um problema para o partido. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Valor: Em meio às vaias, a senhora tentava dizer que o tempo é senhor da razão. O que queria dizer?

Rosalba Ciarlini: Na realidade, quando assumi o governo, encontrei a casa arrasada. Um governo desacreditado, com débitos demais. Só com fornecedores, devia mais de R$ 850 milhões, o que é muito para o Rio Grande do Norte. Também encontrei planos de carreira aprovados sem previsão orçamentária. Tive que tomar medidas dolorosas, que contrariaram interesses, sobretudo políticos. A gente deu um freio muito grande para arrumar a casa, modernizamos a tributação, mas não foi suficiente.

Valor: As dificuldades financeiras estão na origem das dificuldades políticas?

Rosalba: Na hora em que você diz muito ‘não’, deixa de ser bonzinho, de atender pedidos de políticos gratificar A ou B, você desagrada.

Valor: Quais os principais ajustes realizados?

Rosalba: Estamos, segundo o Ministério da Fazenda, entre os melhores ajustes fiscais do país, o que nos deu condições para recuperar a capacidade de pagamento e de endividamento. Tanto que pudemos começar programas fundamentais, como um de universalização do saneamento. Consegui esses recursos pelo PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] e outros financiamentos que foram possíveis. Estamos agora com R$ 540 milhões do Banco Mundial.

Valor: Mas os policiais civis estão em greve e os salários de servidores, atrasados.

Rosalba: Desde o semestre passado está havendo frustração de receitas do FPE [Fundo de Participação dos Estados], e isso desorganizou minha expectativa. Apesar do crescimento do ICMS, não foi possível suprir a queda do FPE. O próprio ICMS está crescendo menos, reflexo da seca, que mexe com toda a cadeia econômica. Agosto já veio com a queda grande e em setembro deu para pagar 93% [do total de servidores]. Dos 104 mil servidores, 6,6 mil vão receber até o dia 10. Pedi o sacrifício porque não dava pra tirar de outra fonte.

Valor: E os policiais?

Rosalba: A greve deles não é por salário. Eles querem que a gente chame os 300 aprovados no concurso e estamos chamando de acordo com a necessidade. Mas já estamos no limite da Lei de Responsabilidade Fiscal. Eles também cobram a retirada dos presos da delegacia, o que já estamos fazendo desde antes da greve. Também querem plano de saúde, mas não posso dar se não for para todos os servidores.

Valor: Então, o que explica as vaias?

Rosalba: É bom estar na democracia para isso poder acontecer. Mas, infelizmente, sabemos que existem aqueles que reclamam se eu andar no carro com a presidente. Há uma deputada do PT, por exemplo, que ficou indignada.

Valor: O governo federal tem liberado recursos. Isso lhe aproximou da presidente?

Rosalba: Logo que a presidente assumiu, ela disse: “Tragam bons projetos.” Passei um ano na luta para fazer projetos. Tivemos que montar uma equipe para isso. A presidente não tem a mínima discriminação por eu ser de um partido que não a apoiou. Uma identidade surgiu entre a gente.

Valor: Mas a senhora pretende apoiá-la em 2014.

Rosalba: Estou passando por tanta dificuldade que resolvi só falar de política em 2014. Agora, eu sou muito independente nas minhas escolhas. Respeito a posição do partido, mas as minhas decisões pessoais são minhas.

Valor: A senhora permanece no DEM?

Rosalba: Não tenho tido tempo de pensar nessa questão. Mas não estou pensando em sair.

Valor: Qual a sua avaliação sobre a situação atual do Democratas?

Rosalba: Temos duas capitais: Salvador e Aracaju. Tínhamos dois governadores, mas o Raimundo [Colombo, de Santa Catarina] saiu e o grupo do [Jorge] Bornhausen está saindo, então fiquei só. Por ser de oposição, o partido tem tido baixas, mas teve lutas decisivas na história, na redemocratização.

Valor: Mas o DEM reúne condições de seguir competitivo?

Rosalba: Tem condição e vai continuar. O Brasil é imenso, não se pode confundir as questões locais. Não é que o partido muda a ideologia, mas a questão local é muito forte.

Valor: Como estão as condições políticas para sua reeleição?

Rosalba: O PMDB disse que a saída da base foi uma decisão política, não administrativa. Não haverá retaliação na Assembleia Legislativa. É importante unir a bancada em favor do Rio Grande do Norte e que cada um cuide das questões eleitorais no momento adequado. Ser ou não ser candidata será avaliado no momento certo. Pode ficar certo de que meu objetivo maior é mostrar o trabalho.

Valor: A senhora não diz que é candidata à reeleição?

Rosalba: Nem que não sou.

Valor: O próprio vice-governador do Estado, Robinson Faria (PSD), é candidato à sua cadeira. Como se deu esse rompimento?

Rosalba: Logo no começo do governo, ele mudou para o PSD e começou a se lançar candidato. Eu disse que não podia, e isso foi nos afastando.

Valor: A senhora convive no Nordeste com o governador Eduardo Campos. Como avalia a postulação dele à Presidência?

Rosalba: É uma novidade. Sou adversária do PSB aqui, mas acho que ele fez um estrago [na base do governo federal]. Quem imaginaria que isso ia acontecer. Uma pessoa com espaço tão privilegiado… Acompanhei a primeira eleição dele ao governo, quando era apenas mais um. Ele tem carisma, ele é bom de debate. Mas claro que Dilma é forte, é fortíssima.

Valor: E quanto ao senador Aécio Neves?

Rosalba: Conheço melhor o Eduardo. Aécio deve capitalizar Minas, Goiás… O Sul e o Centro-Oeste… Vai ser uma eleição equilibrada.

Valor: O senador José Agripino (presidente nacional do DEM) não tem demonstrado entusiasmo em apoiá-la.

Rosalba: Minha relação com Agripino sempre foi franca e aberta. Quando eu construí minha candidatura ao governo, ele não veio comigo fazer a construção. Eleição você vai ter o momento da definição. Vou sair daqui, como tudo que fiz na vida, de cabeça erguida e mãos limpas. Na hora que ele não me quiser, vou tomar meu rumo. Durante a história da minha presença no Democratas – a não ser que agora seja diferente -, o partido não me deixou. E sei que o partido cresceu muito em função da minha presença. Sou a única governadora, fui a primeira senadora do Rio Grande do Norte.

Valor: O governador Cid Gomes convidou a senhora a se filiar ao Pros?

Rosalba: Foi uma ligação rápida, eu estava em Mossoró. Ele ligou dizendo que estava tomando essa decisão e perguntou do meu interesse.

Valor: E o que a senhora respondeu?
Rosalba: Que se eu tivesse interesse, a gente conversaria.

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