Brasil precisa de ‘BNDES dos pobres’, diz economista vencedor do Nobel da Paz

Yunus encontra a presidente Dilma Rousseff em visita ao Brasil em 2011.
Foto: Agência Brasil
 Da BBC Brasil
Para o economista bengali
Muhammad Yunus, ganhador do Prêmio Nobel da Paz, para avançar no combate
à pobreza, o Brasil precisa de um “BNDES para os pobres” e de políticas
que evitem que os beneficiários do Bolsa Família se tornem dependentes
do programa.
A ideia, segundo
o economista, fundador do banco Grameen de microcrédito, é dar apoio
para que integrantes das camadas mais pobres da população desenvolvam
sua capacidade empreendedora e “criem seu próprio emprego”.
“É
preciso separar os serviços bancários e financeiros para os pobres
daqueles voltados para os ricos, porque se você não faz isso, no final a
instituição em questão acaba focando mesmo nos ricos”, disse Yunus,
referindo-se ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social, instituição de fomento a empresas e outros negócios), em
entrevista à BBC Brasil.
“Se o
BNDES quer fazer isso (financiar as grandes empresas), tudo bem. Mas
deve haver um BNDES para os pobres – apenas para os pobres. Assim a
coisa não se confunde. Se o banco faz um pouquinho aqui, outro pouquinho
ali, não funciona. É importante que as políticas e as intenções sejam
claras para o financiamento dos mais carentes.”
Yunus
veio ao Brasil para participar de uma série de palestras e de encontros
da Fundação da ONU, ONG ligada às Nações Unidas da qual é
membro-conselheiro. No Insper, em São Paulo, participou de uma mesa de
debate sobre a promoção da igualdade de gênero (96% dos clientes do
Grameen são mulheres).
Falando
à BBC Brasil sobre o Bolsa Família, Yunus opinou que é preciso garantir
que as pessoas que recebem recursos do programa possam empreender e
“caminhar com suas próprias pernas”.
“Ajudar
as pessoas que passam necessidade deve ser uma prioridade para a
sociedade. Mas depois que você fez isso, há uma segunda tarefa que é
garantir que a pessoa que recebe esses recursos possa se manter
sozinha”, afirmou o economista.
“Pelo
que entendi, o Brasil conseguiu dar conta dessa primeira parte do
trabalho. Mas agora é preciso começar a enfrentar essa segunda parte:
Como fazer essas pessoas saírem do Bolsa Família e se sustentarem
sozinhas, contribuindo para a sociedade?”

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