As denúncias de corrupção e de desvio ético que atingem vários políticos e resvalam em algumas de nossas instituições são graves e têm gerado forte impacto na sociedade que manifesta, repetidamente, seu repúdio contra os fatos revelados. Precisamos apoiar decididamente os órgãos de investigação e o sistema judiciário, mantendo a atenção para não haver interferência ou manipulação de ordem política. A confiança vigilante nas instituições é a melhor maneira de evitar precipitações ou aventuras que não estejam respaldadas na Constituição e no nosso arcabouço legal, que exigem a comprovação cabal do envolvimento da Presidente da República em crimes contra a administração pública, por ação direta ou prevaricação no exercício do cargo, o que ainda não está caracterizado de forma conclusiva para um pedido de impeachment. Mas também não podemos confundir a opinião pública com rótulos simplistas como “golpe de Estado”, que alimentam a polarização que só aprofunda o fosso entre as lideranças políticas e os reais interesses da sociedade, além de desviar o olhar da população das questões graves que são objeto dos inquéritos em curso. Estamos sendo chamados a responder à crise com a máxima responsabilidade.
As manifestações inflamadas ou meramente retóricas contra ou a favor do impeachment precisam ser substituídas por atitudes de apoio às instituições e de exigência de investigações profundas e consequentes. Não é hora de instrumentalizar a crise em favor de qualquer interesse particular ou de grupos, mas de um esforço verdadeiro para enfrentar os graves problemas que já estão afetando severamente a vida das pessoas, como o desemprego, a inflação, as altas taxas de juros e a precarização dos serviços públicos essenciais, principalmente aos mais vulneráveis. Precisamos, urgentemente, de realidade, de compromisso e um país completo em sua construção democrática, com foco inequívoco no bem comum.