Se repetir discurso do mensalão, PT cairá em armadilha

KENNEDY ALENCAR 
BRASÍLIA
Apesar da primeira reação cautelosa em relação à nova prisão do ex-ministro José Dirceu, dificilmente o PT poderá continuara a ignorar o tema. Pela importância que Dirceu tem na história do PT, pelo menos uma manifestação de respeito ao direito de defesa do ex-ministro deverá ser feita na reunião da Executiva Nacional do partido, marcada para hoje, em Brasília.
Se tiver juízo, o PT continuará a ter cuidado em relação a todas as acusações feitas ontem pelos investigadores da Lava Jato. O partido e o governo se assustaram com a quantidade de detalhes das acusações contra Dirceu feita por dois delatores _Julio Camargo, da Toyo Setal, e especialmente Milton Pascowitch, lobista que aproximou a Engevix da Petrobras. Pascowitch teve relação pessoal próxima com Dirceu, o que era sabido no PT.
Causou preocupação no governo e no PT uma diferença apontada em relação à situação de Dirceu, quando comparadas as condutas dele no mensalão e no esquema investigado pela Lava Jato. Neste, de acordo com os investigadores, teriam sido descobertas provas de enriquecimento pessoal.
Dirceu nega. Diz que prestou consultorias para empresas brasileiras interessadas em investir no exterior e que recebeu recursos quando estava preso porque seriam resultado de serviços realizados antes de ir para a cadeia. O juiz Sérgio Moro não crê nessa possibilidade, como destacou no seu despacho para justificar a nova prisão do ex-ministro da Casa Civil.
No mensalão, o PT cometeu o erro de minimizar a gravidade do episódio, atacou o Supremo Tribunal Federal e se confundiu com a corrupção. Adotar comportamento semelhante em relação à Lava Jato será um erro ainda maior.
No mensalão, havia um delator, Roberto Jefferson, que não fez delação premiada. Na Lava Jato, existem delações premiadas que estão fornecendo provas muito mais consistentes do que as obtidas pelo mensalão. E preocupa o PT e o governo a delação premiada que está sendo negociada por Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, que, segundo os investigadores, foi indicado para o cargo por Dirceu.
Portanto, o PT deve refletir bem antes de embarcar em teorias persecutórias ou manobras evasivas a respeito da Lava Jato. Além de receber possíveis punições jurídicas, poderá agravar ainda mais a sua crise de imagem e a situação política do governo Dilma e também do ex-presidente Lula se repetir em relação à Lava Jato o discurso sobre o mensalão. Há uma armadilha no meio do caminho.

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