“Eles me dizem que pra ganhar uma casa é preciso ter sorte”, diz Patrícia de Lima que reside em uma casa de taipa e está na fila de espera por uma moradia há oito anos.
“Eu queria ter na vida, simplesmente, um lugar de mato verde pra plantar e pra colher, ter uma casinha branca de varanda, um quintal e uma janela para ver o sol nascer”.
Este trecho da música de Peninha se encaixaria perfeitamente na vida de Patrícia de Lima, moradora de Igreja Nova, zona rural de São Gonçalo do Amarante, não fosse por um detalhe: a casinha branca.
Inscrita em programas sociais de habitação, há oito anos a dona de casa está na fila de espera por uma moradia. Sem ter mais como aguardar e nem condições de pagar aluguel, Patrícia não viu outra saída: construiu uma casa de taipa para morar com o marido e os três filhos. “Fui pro mato arrancar pau pra construir minha casa. Não tenho vergonha disso”, disse Patrícia.
A casa, feita de barro e vara, portanto de baixo custo e fácil de construir, foi erguida há quase um ano e meio por Patrícia, o marido e mais dois vizinhos. Na parte externa, vasos de plantas adornam a moradia. Dentro da casa, tudo é bem cuidado. As panelas brilham e tudo está em seu devido lugar. Mas a ordem e a paz só existem até o próximo pé d’água.
PERIGO – Quando chove é um “Deus nos acuda”. A Chuva forte e o vento forte levam embora o bairro que reveste as paredes. As goteiras caem impiedosas sobre as tão bem cuidadas panelas de Patrícia, o barro escorre das paredes e a casa, tão limpinha, vira um lamaçal.
Para tentar conter o problema, do lado de fora grandes sacos plásticos foram colocados sobre as paredes, escorados com pedaços de pau. A intenção é que a casa não se “dissolva” em contato com a água.
A estratégia adotada até ameniza o problema, mas não exclui o receio da dona de casa. “Quando chove a gente morre de medo”.
A chuva não é o único problema. A família também tem que conviver com outros habitantes indesejáveis: cupim, escorpião e outros insetos. O mais temido besouro é o barbeiro, transmissor da doença de Chagas, que se aloja nas brechas das paredes das casas de taipa. A doença de Chagas não tem cura e, se não for tratada corretamente, o cidadão morre do coração ou com infecção intestinal.
INVISIBILIDADE – Por receio desses insetos, a família revestiu, internamente, as paredes dos quartos com cimento. Mas, mesmo com esses investimentos, a casa é uma questão de saúde pública. Problema que as autoridades fazem de conta não existir.
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